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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Água em fuga


O que aconteceria se toda água do mundo magicamente sumisse?
-Joanna Xu

Como sempre nesse tipo de questão, todo mundo morreria.
Os primeiros a notarem seriam nadadores e navegadores, por razões óbvias.


   Para evitar um cenário de “copo pela metade”, vamos assumir que a água é substituída por ar.
A maioria das pessoas costuma nadar em águas relativamente rasas, logo, a maioria sobreviveria à queda até o chão talvez com alguns ossos quebrados. As pessoas no oceano, por outro lado, estariam encrencadas.
As pessoas em águas rasas chegariam ao chão primeiro. Dentro do primeiro segundo, uma grande quantidade de barcos em lagos, rios, e balneários iriam quebrar ao chegar no chão, e muitos a bordo sobreviveriam.
Os barcos no oceano demorariam pra cair. Dentro dos próximos 5 segundos, um amontoado de “crashes” iriam acontecer pelos continentes. Quanto mais longe os barcos estiverem da costa, menores serão os fragmentos resultantes da queda, matando todos a bordo.
Após os primeiros 6 ou 7 segundos, ocorreria um pequeno alívio na taxa de destruição de barcos. As prateleiras continentais caem abruptamente, e a maioria dos navios lá pro mar profundo demoraria um pouco mais para cair.
O Titanic afundou em cerca de 3 km de água. Depois que desapareceu de baixo da superfície, as duas metades do navio demoraram entre 5 e 15 minutos para chegar ao fundo. Sem o oceano lá, teria atingido o fundo em cerca de 30 segundos.
Dentro do primeiro minuto, quase todos os grandes navios estariam no fundo. O último barco a chegar no fundo provavelmente seria um pequeno veleiro ou jangada que estava cruzando uma vala oceânica quando a água desapareceu. Graças ao pouco peso e/ou o arrasto causado pelas velas, um desses veleiros poderia demorar muitos minutos para atingir o fundo.

Se houvesse um hidroavião flutuando no oceano profundo, poderia sobreviver, embora fosse preciso um pouco de sorte e um pensamento rápido do piloto. O avião inicialmente cairia, mas ao ganhar velocidade iria tender a “deslizar”. Após o choque inicial, o piloto teria um tempo considerável para tentar ligar o motor. Graças, em parte, ao ar mais denso, seria possível um hidroavião voar suavemente pelo fundo do mar. Se o motor ligasse, o piloto poderia voar para a civilização.
Peixes, baleias, golfinhos e toda a vida marinha morreria imediatamente. Aqueles perto do fundo do mar iriam sufocar ou ressecar, enquanto os que estivessem próximos à superfície no mar profundo iriam sofrer o mesmo que os navios.

Aí que as coisas realmente estranhas acontecem.
Sem a evaporação vindo dos lagos e oceanos alimentando o ciclo da água, pararia de chover. Sem água para beber, as pessoas e a maioria dos animais iriam desidratar e morrer em questão de dias. Dentro de poucas semanas, as plantas começariam a não aguentar o ar totalmente seco. Nos primeiros meses, uma massiva morte de grandes florestas começaria.
Com a seca total, a vegetação inevitavelmente queimaria, e dentro de dias, a maioria das florestas do mundo teriam sido consumidas pelas chamas. As florestas armazenam quantidades enormes de CO2, e estas queimadas aproximadamente dobrariam a quantidade de gás de efeito estufa na atmosfera, acelerando o aquecimento global.
No fim das contas, o cenário imaginado resultaria em praticamente toda a vida morrendo rapidamente. Mas então as coisas ficariam ainda piores.
Sem um ciclo de água para rochas meteorológicas, o sistema de feedback de carbono-silicato que atua como um termostato de longo prazo para estabilizar o clima seria desligado. Sem esse feedback, o CO2 vulcânico se acumularia em nossa atmosfera, levando - a longo prazo - a temperaturas escaldantes semelhantes ao que aconteceu em Vênus.
Nós íamos perder nossos oceanos de qualquer maneira. À medida que o Sol fica mais quente, eventualmente a água começará a escapar pela evaporação e, de uma forma ou de outra, o planeta secará e aquecerá. No entanto, a perda dos oceanos nunca parecia algo que valesse a pena preocupar-se demais, uma vez que é um bilhão de anos no futuro. Os oceanos estarão aqui muito tempo depois que a nossa espécie desaparecer.


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